Imagine um momento em que você pudesse olhar para o mundo sem o constante martelo do julgamento em sua cabeça. Sem aquela reação imediata: “Ele é rude, ela é superficial, isso é errado, isso é certo”. Krishnamurti disse certa vez que a capacidade de observar sem julgamento é a forma mais elevada de inteligência. Mas falando sério – quantas vezes você realmente tentou isso? Num mundo onde os julgamentos são a nossa refeição diária, ficámos viciados em opiniões como a cafeína: sem elas, parece que estamos a perder uma parte da nossa identidade. É realmente assim?
Quando os julgamentos são os nossos cintos de segurança - mas serão mesmo verdadeiros?
Cada um de nós já passou por uma situação em que julgamos alguém com base apenas na primeira impressão. Provavelmente pensamos que estávamos certos: "Olhe a maneira como ele fala - ele com certeza é vaidoso." Ou: “Ah, ela só usa marcas caras, ela deve ser superficial.” Mas esses julgamentos raramente são mais do que projeções pessoais espalhadas sobre aqueles que realmente não os merecem. Nossos julgamentos são como as manchetes dos tablóides – rápidos, contundentes, muitas vezes longe da verdade. No entanto, nós os aceitamos como fatos. Por que? Porque é mais fácil enganar os outros do que realmente conhecê-los.
Podemos ter medo de que aceitar as pessoas sem julgamento possa de alguma forma nos “suavizar” ou nos tornar mais vulneráveis. Para que nossas ideias fortes sobre o mundo e as pessoas, que construímos tão lindamente, ruíssem. A ironia? São os julgamentos que nos prendem, limitam a nossa liberdade e nos mantêm acorrentados. Queremos realmente viver assim?
Ego: juiz e usuário em um só
Nosso ego é aquele anão em nossa cabeça que sempre quer estar no comando – melhor, mais inteligente, menos “defeituoso” do que qualquer outra pessoa. É um ditador interno que nos diz que não podemos apenas observar sem julgar, porque isso significaria que estamos cedendo. Que somos fracos. Que somos, Deus me livre, não é melhor que os outros.
Mas aqui está o truque: quando não julgamos, quando apenas observamos, o ego na verdade perde o seu poder. Ele perde aquela doce ilusão de que é indispensável. Em vez de nos fazer sentir fracos, a observação sem julgamento pode nos encher de força genuína. Não com o poder que obtemos quando estamos certos, mas com o poder que vem da compreensão profunda — ei, posso não saber tudo, e tudo bem.
Exercício: Observe e fique em silêncio (se possível)
Experimente hoje mesmo o seguinte: vá para a rua ou para um bar, desligue o martelo mental e simplesmente olhar. Se você vir alguém que parece desinteressado, não presuma que ele está entediado. Se você conhecer alguém que esteja vestido de maneira diferente, não marque-o imediatamente como “fora do seu círculo”. Deixe que o que você vê seja apenas uma cena – pessoas se movendo como nuvens no céu. Ver sem analisar, sem interpretar. É realmente tão difícil?
Seu ego provavelmente irá se contorcer como uma criança mimada: “Mas eu quero saber por quê!” E é compreensível – todo mundo gosta da sensação de poder que acompanha os julgamentos. Mas no momento em que você deixa essa necessidade de lado, você se torna mais livre. Você vê mais, não apenas através das camadas de suas próprias suposições.
Como os julgamentos destroem o amor e a compreensão
Você já percebeu como os julgamentos afetam nossos relacionamentos? Involuntariamente criamos muros, muros de expectativas, ideais e decepções. Julgamos nossos parceiros porque eles não são suficientes para isso ou aquilo, comparamos nossos amigos com nossas expectativas e julgamos os familiares por não entenderem a “verdade”.
Mas o amor não pode realmente prosperar em tal atmosfera. O amor nasce em um espaço de aceitação. Quando paramos de julgar, podemos realmente ver nossos entes queridos. E melhor ainda, começamos a nos ver com mais compreensão. O julgamento cria espaços vazios em nossos corações, enquanto a observação sem julgamento cria espaço para conexão, para a verdadeira presença.
Hora de “desintoxicar” o ego?
A capacidade de observar sem julgamento não é uma arte esotérica para poucos selecionados. É uma ferramenta que qualquer um de nós pode usar se quisermos. Mas traz mais do que apenas paz – traz liberdade do fardo do julgamento constante, da necessidade constante de fazer valer o seu direito. E, sinceramente, quem entre nós não gostaria de pelo menos um pouco mais de tranquilidade, um pouco mais de liberdade e - por que não - um pouco mais de sabedoria?
Não espere até ser um filósofo antigo para se permitir um único momento sem julgamento. Permita-se agora. Você pode se sentir um pouco estranho com isso, mas se não tentar, não saberá o que está perdendo.