A UE proibirá crianças de usar as redes sociais? A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, provocou um debate acalorado com sua proposta de introduzir uma idade mínima para o uso das redes sociais na UE. A ideia de uma "idade digital da maioridade" parece atraente, mas advogados alertam que a UE não tem jurisdição para tomar tais medidas. Trata-se apenas de mais uma ideia ambiciosa ou de um futuro realista?
Imagine um mundo onde seu filho adolescente não consegue abrir um TikTok ou Instagram. Parece o sonho de qualquer pai, não é? Bem, talvez não tão rápido. Úrsula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia e mãe de sete filhos, defendeu recentemente a ideia de uma "idade digital da maioridade" em Nova York. Sua proposta? Uma idade mínima para acessar as redes sociais, semelhante à idade para beber álcool ou fumar. Mas antes que pudéssemos começar a aplaudir, os advogados rapidamente levantaram as mãos e disseram: "Calma, Ursula, a UE não tem esse poder!"
Com esta proposta, von der Leyen abriu uma caixa de Pandora de perguntas: a UE pode realmente regular as redes sociais para crianças? E será esta a maneira certa de proteger os jovens no mundo digital? Vamos nos aprofundar neste drama tecnológico-jurídico que pode mudar o espaço digital da Europa — ou permanecer apenas como promessas.
A ideia que agitou a Europa: a UE proibirá as crianças de usar as redes sociais?
Em seu discurso em Nova York, Ursula von der Leyen enfatizou que as mídias sociais apresentam riscos para os jovens, desde o vício até a exposição a conteúdo nocivo. Como avó de cinco netos e mãe de sete filhos, ela reforçou sua ideia com uma nota pessoal: "Todos concordamos que os jovens devem atingir uma certa idade antes de começar a fumar ou beber. O mesmo deve se aplicar às mídias sociais." Sua proposta de uma idade mínima para usar plataformas como Facebook, Instagram ou TikTok rapidamente atraiu a atenção – e causou surpresa.
Em seu discurso sobre o Estado da União, ela também anunciou a criação de um grupo de especialistas para estudar como tal proibição poderia se concretizar na prática. Mas é aqui que a história se complica. A União Europeia, apesar de seu poder, não tem autoridade para regulamentar uniformemente questões como limites de idade para fumar ou consumir álcool – e o mesmo vale para as mídias sociais.
Obstáculo legal: a UE não tem esse poder
Peter Craddock, especialista jurídico do escritório de advocacia Keller & Heckman em Bruxelas, é a favor Política deixou claro: "Há uma séria questão sobre se a UE tem o poder de proibir menores de usar as redes sociais". De acordo com os atuais tratados europeus, tais decisões cabem aos Estados-membros. Cada país tem suas próprias leis de idade para acesso a álcool, cigarros ou até mesmo pornografia – e o mesmo se aplica ao mundo digital.
Fabiola Bas Palomares, da organização de direitos das crianças Eurochild, também alerta que "atualmente não há base legal para uma proibição harmonizada de mídias sociais para crianças em nível da UE". Em outras palavras, a ideia de von der Leyen é mais um desejo do que um plano viável, de uma perspectiva legal.
O que diz a Comissão Europeia? A UE proibirá o uso das redes sociais por crianças?
Curiosamente, mesmo a Comissão Europeia não parece estar totalmente do lado do seu presidente. Thomas Regnier, porta-voz da Comissão, afirmou em junho: "A nível da UE, uma proibição não é algo que a Comissão faça. É da competência exclusiva dos Estados-Membros." Embora von der Leyen fale sobre um grupo de peritos, a Comissão afirma oficialmente que não está a considerar tal proposta. Será então apenas retórica política ou uma tentativa séria de mudança?
Mídias sociais e crianças: desafios reais
Apesar dos obstáculos legais, a questão da proteção de crianças online continua muito relevante. Estudos como o da Common Sense Media mostram que o adolescente médio na UE passa mais de três horas por dia nas redes sociais. Isso traz riscos como exposição a conteúdo inapropriado, assédio online ou até mesmo impacto na saúde mental. Ao mesmo tempo, as redes sociais permitem que os jovens se conectem, aprendam e se expressem. Uma proibição total poderia, portanto, ter consequências positivas e negativas.
Alguns países já têm suas próprias abordagens. Por exemplo, a França introduziu uma regra em 2023 que exige que crianças menores de 15 anos obtenham o consentimento dos pais para usar as redes sociais. Mas regras uniformes em nível da UE? É como tentar harmonizar os sabores de pizza em 27 países – só que mais complicado.
A indústria tecnológica à espreita
Plataformas de tecnologia como Meta, TikTok e Snap ainda não responderam oficialmente à proposta, mas não é segredo que qualquer tipo de regulamentação impactaria seus negócios. As mídias sociais são um mercado significativo para os jovens — segundo a Statista, 40% dos usuários do Instagram na UE têm entre 13 e 24 anos. Uma proibição ou regras mais rígidas podem significar menos usuários, o que afetaria a receita.
Ao mesmo tempo, as empresas de tecnologia já enfrentam pressão. A Lei de Serviços Digitais (DSA), que entra em vigor em 2023, exige que as plataformas assumam maior responsabilidade pela proteção de usuários menores de idade. Talvez uma abordagem mais prática fosse fortalecer as leis existentes em vez de adotar uma proibição juridicamente questionável?
Conclusão: Utopia ou realidade?
A UE proibirá as crianças de usar as redes sociais? A ideia de Ursula von der Leyen de uma era digital da maioridade despertou preocupações entre os pais, mas a realidade jurídica rapidamente a trouxe de volta à realidade. A UE pode sonhar com uma regulamentação unificada das redes sociais, mas sem mudanças nos tratados europeus ou no acordo dos Estados-membros, essa continua sendo uma ideia ambiciosa. Em vez de proibir, talvez devêssemos nos concentrar em educar melhor as crianças sobre o uso seguro da internet ou em um monitoramento mais rigoroso das plataformas.
Por enquanto, parece que os adolescentes continuarão navegando pelo TikTok despreocupadamente enquanto advogados e políticos debatem quem tem o poder de impedi-los. Talvez a verdadeira solução esteja menos em proibições e mais em ensinar as crianças a nadar no mar digital — antes que sejam levadas pelas ondas.