Banindo o TikTok?! TikTok, o rei das redes sociais que nos ensinou a importância de sincronizar adequadamente os movimentos de dança e cozinhar massas de acordo com receitas de 60 segundos, está prestes a desaparecer do espaço digital americano. Os EUA decidiram tomar medidas drásticas contra a aplicação chinesa devido a alegados riscos de segurança, mas as ramificações irão muito além das fronteiras de um único país. Será este o início de uma nova era de soberania digital ou a introdução de uma Internet fragmentada?
Banindo o TikTok?! A história de TikTok e seu americano ela não é nova no drama. Já em 2020, a administração de Donald Trump tentou arrancar o aplicativo das mãos da empresa chinesa ByteDance. Na época, a polêmica girava em torno da suposta ligação da ByteDance com o governo chinês, tornando o aplicativo um risco à segurança nacional. O drama diminuiu temporariamente, mas em abril de 2024, o presidente Joe Biden assinou uma lei dando um ultimato ao TikTok: ou a ByteDance venderá as operações do aplicativo nos EUA ou o aplicativo será banido do território dos EUA.
E agora, em 19 de janeiro de 2025, estamos à beira de uma realidade em que os usuários dos EUA poderão não conseguir mais baixar o aplicativo que conquistou o mundo.
Segurança nacional ou jogo político?
A justificativa para a proibição? Segurança nacional, é claro. O governo dos EUA afirma que as autoridades chinesas poderiam forçar a ByteDance a entregar dados de usuários dos EUA ou a usar algoritmos para influenciar a opinião pública. Este medo pode não ser totalmente infundado quando olhamos para revelações sobre práticas de dados em outros gigantes da tecnologia, por exemplo, mas a ironia é óbvia – queremos realmente discutir a privacidade de dados num país onde o Facebook, o Google e a NSA são sinónimos de vigilância em massa?
Ainda assim, o principal argumento do governo é claro: não é que o TikTok seja necessariamente o culpado, mas que existe uma possibilidade de risco. É como proibir uma rede de pesca porque há uma chance de você pegar um golfinho com ela. Ou é?
Banindo o TikTok
Um golpe para os criadores: os criadores de dança encontrarão um novo palco?
O TikTok não é apenas um aplicativo – é um fenômeno cultural. Possui mais de 170 milhões de usuários nos EUA, vários milhões dos quais são criadores que construíram suas carreiras (e contas bancárias) nesta plataforma. Não é apenas um local de entretenimento, mas uma ferramenta de negócios, onde pequenos negócios anunciam produtos, músicos lançam sucessos e políticos buscam eleitores jovens.
Para muitos criadores de conteúdo, a proibição do TikTok seria o equivalente a destruir a loja na qual eles confiam. Claro, eles já estão correndo para alternativas como Instagram Reels, YouTube Shorts e até mesmo o um tanto esquecido Snapchat, mas nenhuma plataforma ainda oferece a mesma combinação de “mágica” algorítmica e alcance global que o TikTok tem.
Implicações técnicas: o fim das atualizações e o início dos problemas
Se a proibição for mantida, isso não significa que o TikTok desaparecerá do seu telefone (pelo menos não imediatamente). Mas a App Store da Apple e o Google Play não oferecerão mais download e nenhuma atualização estará disponível.
O que isso significa para os usuários? Sem atualizações de aplicativos, a dívida técnica começa a se acumular – vulnerabilidades de segurança, degradação de desempenho e, em última análise, obsolescência. Acrescente a isso o bloqueio dos servidores americanos onde o TikTok armazena dados, e é apenas uma questão de tempo até que o aplicativo se torne completamente inútil.
Implicações globais: a fragmentação da Internet como a nova realidade?
Os EUA não são o primeiro país a declarar guerra ao TikTok. A Índia já o proibiu em 2020, com muitos aplicativos locais tomando seu lugar. Mas os EUA são uma história diferente. Sendo uma das maiores superpotências tecnológicas do mundo, a sua ação poderá criar um efeito dominó – ou mesmo dividir a Internet em zonas geopolíticas.
Imagine uma Internet onde o seu acesso ao conteúdo não é limitado apenas pela legislação, mas também pelo país da plataforma. Este cenário – muitas vezes chamado de “splinternet” – poderá tornar-se uma realidade. Isto é um pesadelo para os defensores de uma Internet livre e aberta, mas talvez também um futuro em que os interesses nacionais superem a conectividade global.
Quem fica com tudo? (Dica: Mint provavelmente já abriu o champanhe)
É claro que a proibição do TikTok não é necessariamente uma má notícia para todos. A Meta (dona do Instagram e do Facebook) e o Google (com o YouTube) já observam um aumento de criadores em busca de novas plataformas. Seus algoritmos estão ávidos por novos conteúdos, e os criadores de conteúdo acostumados com as receitas virais do TikTok encontrarão rapidamente novas maneiras de aproveitar essas alternativas.
Mas a questão permanece – serão estas plataformas capazes de preencher o vazio que o TikTok deixará para trás? E poderão algum dia atingir o mesmo nível de influência cultural?
Privacidade e ironia na luta pelo controle
No final, há uma ironia óbvia nesta história. A proibição do TikTok é justificada pela proteção da privacidade americana, mas, ao mesmo tempo, este mesmo governo (e as empresas que muitas vezes estão do seu lado) explora os dados pessoais dos seus cidadãos há décadas. É uma batalha pela privacidade ou apenas mais um jogo de xadrez geopolítico?
Manobra de Trump: compromisso em vez de proibição?
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que assumirá novamente o cargo em 20 de janeiro de 2025, parece estar inclinado a uma abordagem mais pragmática para banir o TikTok. Em vez de um bloqueio total que removeria o aplicativo do espaço digital americano, sua administração está explorando opções para um compromisso que resolveria as questões de segurança sem causar o caos total entre criadores e empresas que dependem da plataforma.
De acordo com relatos da mídia americana, como Política e Eixos, os conselheiros de Trump estão a considerar impor requisitos regulamentares mais rigorosos às candidaturas estrangeiras. Uma solução proposta envolve o estabelecimento de uma parceria EUA-China, através da qual o TikTok poderia continuar a operar, mas os dados dos utilizadores dos EUA teriam de permanecer armazenados exclusivamente em servidores dos EUA. Este seria um acordo semelhante ao que a TikTok já tentou fechar em 2020, quando quase chegou a um acordo com a Oracle e o Walmart sobre a propriedade de dados e infraestrutura nos EUA.
Além disso, a equipe de Trump está considerando a criação de uma estrutura regulatória especial que exigiria que todos os aplicativos de propriedade estrangeira que operam nos EUA cumprissem as regras de privacidade e controle de dados dos EUA. Isto incluiria revisões regulares de segurança e transparência estrita sobre o funcionamento dos algoritmos, o que poderia reduzir os receios de manipulação política de conteúdos ou vigilância por parte de governos estrangeiros.
A abordagem de Trump deveria, portanto, ser mais politicamente aceitável para ambas as partes. Embora isto demonstrasse a firmeza do Partido Republicano na proteção da segurança nacional, evitaria o caos total que uma proibição imediata causaria, especialmente para os milhões de utilizadores e empresas que dependem do TikTok. No entanto, permanece a questão de saber se esta solução será suficiente para dissipar as dúvidas do Congresso dos EUA e de outros críticos que exigem a remoção completa da influência chinesa do ecossistema digital dos EUA.
O potencial compromisso de Trump abre assim a porta a um novo modelo de regulação que poderá ir além da questão do TikTok e moldar as regras para as futuras relações entre o governo dos EUA e os gigantes tecnológicos estrangeiros. Mas se estas propostas serão aceitáveis para a China, que vê o TikTok como um importante ativo tecnológico, e se os legisladores dos EUA estarão dispostos a ceder, ainda é uma questão em aberto que determinará o futuro da popular aplicação.
Conclusão: TikTok como o início de uma nova era digital?
A proibição do TikTok nos EUA não é apenas uma questão de segurança nacional, mas um sintoma de uma história maior – a história de como iremos gerir a Internet, os dados e o poder dos gigantes da tecnologia no futuro. Será este o início de uma nova era de soberania digital, onde cada nação criará as suas próprias “cercas” digitais? Ou é um aviso de que a Internet tal como a conhecemos pode desintegrar-se numa série interminável de ecossistemas fechados?
Se o TikTok for apenas o primeiro dominó, o futuro do cenário digital poderá parecer bem diferente. Mas uma coisa é certa: os vencedores serão aqueles que primeiro conquistarem a nova realidade. A única questão é se estamos prontos para isso.